Política de formação de leitores...

Programas federais se articulam para distribuir livros e favorecer a criação de bibliotecas, salas e cantinhos de leitura nas escolas. A formação de professores faz parte das metas: é preciso saber ensinar o prazer da leitura


Qual o professor que não sonha com um amplo acervo de livros em sua escola para dinamizar as aulas e incentivar a leitura dos alunos? Mas como aproveitar ao máximo a biblioteca e fazer dela um lugar de interesse contínuo para a garotada? Na biblioteca da Escola Municipal Manuel Fiel Filho, em Diadema (SP), que atende crianças até 6 anos, há livros, jornais, gibis, revistas e filmes em vídeo e DVD. Além disso, o espaço dispõe de computadores com acesso à internet, um tablado para representar os personagens das histórias lidas, uma arena para discussões e bate-papos, mesas e cadeiras para atividades de pintura, desenho e escultura.
De nada adiantaria tudo isso, no entanto, se não existisse um professor capacitado para manter o espaço vivo e fazer a ponte entre o projeto pedagógico da escola e a biblioteca. Esse novo profissional no mercado é o infoeducador ou o professor de biblioteca. "Meu papel é multiplicar os conhecimentos e ajudar os alunos e os professores na exploração adequada do ambiente. O estímulo à leitura deve começar bem cedo, articulado com um sólido projeto pedagógico", explica Mara Silva Ramos. Para Edmir Perrotti, professor de biblioteconomia da Universidade de São Paulo (USP) e consultor do Ministério da Educação (MEC), os alunos que têm acesso a várias informações e linguagens oral, audiovisual, escrita e digital desenvolvem com maior facilidade a leitura e a escrita. "Informação, cultura e conhecimento precisam estar presentes na escola. A idéia é que as bibliotecas sirvam como porta de entrada desse importante circuito para alunos, pais, professores e comunidade", explica o consultor.

O projeto das estações de conhecimento, como Perrotti denomina essas superbibliotecas, está sendo implantado em 140 escolas municipais de São Bernardo do Campo, 71 de Diadema e 12 de Jaguariúna, todas em São Paulo. A prefeitura da capital paulista está estudando implantar o modelo em 1503 escolas e 313 creches. Em 2006, o MEC pretende espalhar a experiência para outros estados do Brasil e estabelecer uma rede de leitura.

ALFABETIZAÇÃO COM HISTÓRIAS INFANTIS

Vários programas de incentivo à leitura estão sendo estudados e implantados pelo MEC desde o início de 2005. As ações foram definidas depois de uma série de encontros regionais, que promoveram, por exemplo, a avaliação do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). A partir deste ano, as escolas passaram a escolher o acervo de livros de literatura enviado pelo MEC. O projeto inovou ao selecionar obras literárias disponíveis no mercado e destiná-las para uso coletivo nas escolas. Os acervos apresentam vários gêneros de texto, como poesia, parlenda, cantiga, conto, teatro, crônica e romance. Até o início do ano que vem, todas as escolas terão recebido as obras, que foram escolhidas em setembro.

Maria Gonçalves de Oliveira, da Escola Municipal Professora Júlia Kubitschek de Oliveira, em Contagem (MG), é uma das 900 professoras capacitadas pela Rede Nacional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica programa voltado para melhorar a qualidade do ensino e aprendizagem dos alunos, em parceria com prefeituras e universidades. Ela aprendeu no programa oferecido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a alfabetizar com livros de literatura. "Faz 30 anos que dou aulas para turmas de 1ª a 4ª série e nunca tive um resultado tão bom como agora. Os livros de histórias infantis são os melhores materiais de que dispomos para ensinar a ler e escrever com prazer", conta a professora.

Nas aulas de Maria, os livros consagrados têm o mesmo peso que os produzidos pelas crianças. Elas aprendem a escrever o próprio nome ao mesmo tempo em que escrevem uma pequena obra. "Uma das principais dificuldades dos professores é estabelecer uma rotina de leitura. Aprender a ler com a entonação certa e o uso de gestos e expressões faciais ajuda a criar o clima e envolver as crianças na história e merece destaque na formação. O professor também precisa desenvolver a sua oralidade e expressão", explica Antônio Augusto Gomes Batista, coordenador do módulo alfabetização e linguagem do curso oferecido na UFMG.

Há mais ações do MEC. O critério de seleção e distribuição de dicionários para as escolas públicas foi modificado. Em 2006, os alunos de 1ª a 4ª série vão ter acesso a dicionários adequados à sua faixa etária e à série em que estão matriculados, e os professores receberão orientações de como utilizar o material. "Uma criança que está aprendendo a ler e escrever não pode recorrer ao mesmo dicionário que um aluno que está terminando a 8ª série", afirma Jeanete Beauchamp, diretora de políticas de Educação Infantil e Ensino Fudamental da Secretaria de Educação Básica do MEC.

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Programa Nacional do Livro do Ensino Médio (PNLEM) fazem parte desse pacote. O primeiro é o maior programa de distribuição gratuita de livros do mundo. O segundo está beneficiando, pela primeira vez, 1,3 milhão de alunos com livros didáticos de Língua Portuguesa e Matemática.

PROFESSOR-LEITOR, ALUNOS-LEITORES

Projetos de leitura são prioridade em Pernambuco. Na capital, já foram capacitados 130 professores para o cargo de professor de biblioteca. "Queremos criar essa categoria, que se diferencia do bibliotecário. O professor tem um olhar pedagógico dos ambientes de leitura da escola, enquanto o outro profissional tem uma visão técnica. O objetivo é que os dois trabalhem juntos para otimizar o espaço", explica Carmen Bezerra Bandeira, gerente de bibliotecas e formação de leitores da prefeitura.

A formação de professores da rede municipal de educação de Olinda acontece na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e em oficinas de centros populares. "O professor que gosta de ler cria estratégias eficientes de estímulo à leitura", explica Ester Calland de Sousa Rosa, professora do Centro de Educação da UFPE. A especialista adverte: a leitura é ao mesmo tempo um meio de buscar informações e de prazer. Mais do que instrumento para ensinar os conteúdos das disciplinas curriculares, ela é competência fundamental para inserir pais, professores e alunos na cultura letrada.

A professora Carla Barroca não tinha se dado conta disso até participar de um curso oferecido pela secretaria municipal de Educação de Olinda no Centro de Cultura Luiz Freire. O novo conhecimento mudou tanto o olhar e a prática da professora em sala de aula que hoje ela é uma das formadoras do centro onde estudou. "Eu me descobri leitora depois de participar de cursos de formação. Hoje multiplico a paixão pelos livros com os colegas."

O primeiro passo na capacitação é derrubar o mito de que os professores não lêem. "Eles lêem, sim, mas não uma literatura considerada ideal, como os clássicos. Descobri que muitos professores participaram de rodas de leitura de cordel no interior do estado, mas tinham preconceito com o gênero e não valorizavam essa leitura", conta Ester, da UFPE. Por isso, os cursos priorizam a sensibilização e a história individual de cada participante. Porteiros, merendeiras e faxineiras não ficam de fora do programa. A leitura compartilhada é outra estratégia utilizada na formação. Os professores escolhem uma obra para ler em voz alta e discutir. Essa roda, como acontece com os alunos, é um momento de desenvolvimento da oralidade e da expressão. O debate de idéias pela literatura permite abordar outras temáticas importantes da educação, como a questão racial e as diferenças entre os gêneros na escola.

Faz parte do curso aprender a ler imagens e reconhecer a qualidade de uma obra infanto-juvenil. Ao representar e caracterizar os principais personagens das histórias lidas em grupo, os professores descobrem a riqueza dos enredos, cenários e contextos das obras. "É um momento de aprender a olhar o outro e reconhecer os traços psicológicos de personagens, assim como de colegas e alunos. Trata-se de um importante exercício de leitura do mundo", explica Carla.

Para descobrir os programas de incentivo à leitura à disposição de escolas e comunidades, é só entrar em contato com a prefeitura de sua cidade. A escola é o lugar ideal para iniciar rodas de leitura e discussões de literatura. Uma boa idéia é dar o pontapé inicial de programas municipais em sua comunidade escolar!

COMO MONTAR UM CANTINHO DE LEITURA
Combine com os alunos e os pais o melhor lugar e os materiais necessários para formar o cantinho.

Para o espaço ficar atraente, pinte com as crianças uma pequena estante ou caixotes de madeira para acomodar os livros. Peça às mães para fazer um tapete e almofadas.

A pequena biblioteca deve ter vários tipos de leitura: revistas, gibis, livros de literatura e de informação.

Deixe os alunos à vontade para escolher os livros e levá-los para casa aos finais de semana. É uma maneira de socializar a leitura com os pais.

Ensine a garotada a preservar o acervo, mas lembre-se de que o livro é para pegar, brincar e partilhar, por isso deve estar à mão. Lugar de livro não é na secretaria da escola!
Texto retirado... http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/politica-formacao-leitores-423373.shtml