A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA EM CONTEXTOS INICIAIS DE ALFABETIZAÇÃO

           A avaliação sempre foi um tema polêmico e muito discutido no ambiente escolar sendo que cada professor tem o seu método avaliativo para saber o que o aluno já aprendeu, e até hoje perdura o método classificatório em que o aluno é sentenciado com provas e notas finais.
           Para Jussara Hoffmann (1993), a avaliação é um método investigativo que vem da correção tradicional, mas foi adaptado para que o professor possa compreender as manifestações dos alunos, apresentando os erros e mostrando as hipóteses construídas por eles, sendo importante na aplicação como problematização, questionamento e reflexão sobre a ação e os resultados. O professor deve constantemente se avaliar para que não tenha verdades absolutas e conclusões finais.          
É importante o acompanhamento do professor nas tarefas dos alunos em todos os graus de ensino, não fazendo o aluno retificar, reescrever, sublinhar, apontar erros e certos, transformando as atividades em pesquisa e reflexão sobre as soluções apresentadas por ele.
O objetivo da avaliação mediadora é conscientizar os professores sobre sua prática direcionada da ação avaliativa no caminho das relações dinâmicas e dialógicas na educação.
O objetivo do desafio que se enfrenta, quanto a uma perspectiva mediadora da avaliação é, principalmente, a tomada de consciência coletiva dos educadores sobre sua prática, desvelando-lhe princípios coercitivos e direcionando a ação avaliativa no caminho das relações dinâmicas e dialógicas em educação. (Hoffmann, 1993, p.81)
           A avaliação tem duas tarefas básicas, a que os educandos trazem conhecimento e podem construir suas próprias verdades e a que o educador deve confiar e deixar os educandos se expressarem, participando e valorizando os seus interesses.
           Enquanto que para Zabala (2007), a avaliação inicial é o planejamento da ação que deve ser flexível podendo ser mudada e entendida como hipótese de intervenção que é feita em sala de aula, por meio de uma prova simples de escrita em que o professor verifica se o aluno sabe ou não os conteúdos conceituais do processo de aprendizagem que muitas vezes são limitados. Para que seja planejada essa ação avaliativa de intervenção, é considerada por pais, professores e alunos como um instrumento, que qualifica as aprendizagens dos alunos, por meio dos resultados obtidos e como sendo um processo pessoal e coletivo de interação dos alunos no ensino e aprendizagem.
          A concepção construtivista da aprendizagem propõe que a estrutura cognitiva do homem que é composta de uma rede de “esquemas de conhecimento”, que representam o que (cognitivamente) uma pessoa possui em um determinado momento de sua existência, sobre um processo de aprendizagem. Esta rede é formada pelo conhecimento prévio do aluno até um dado momento e seus níveis de desenvolvimento, na construção de um conhecimento atual, que se dá a partir da comparação entre o que ele já possuía de conhecimento e o que está sendo proposto
Segundo Jussara Hoffmann (2005), a avaliação da aprendizagem, é especifica e envolve dois elementos do processo, o professor que deve mediar e acompanhar o aluno a todo momento, e entender  o seu processo seja nos gestos, ilustrando em sua escrita, interagindo com as diversas maneiras apresentadas, são essas observações que dão significados ás ações dos alunos em termos de avaliação mediada pelo professor.
Mediar a expressão de sentido, em todos os momentos do processo, é tentar compreender o que o aluno aprende falando, escrevendo, desenhando, gesticulando. Ele elabora significados próprios sobre os conhecimentos que constrói e os comunica por meio de múltiplas linguagens. (Hoffmann, 2005, p.58)
Essa compreensão se dá a partir do diálogo estabelecido com o próprio aluno em primeiro lugar, com seus familiares, amigos e os professores nos espaços escolares, uma troca contínua em avaliações sobre o aluno e entre os educadores na qual o educando compartilha a reconstrução de suas práticas falando sobre as disciplinas e os professores.
O educador, que tiver clareza das ações diárias do aluno. Estará aplicando a avaliação mediadora e formadora, observando cada aluno em sua dimensão, formando cidadãos críticos e conscientes exercendo sua autonomia.
Segundo Luckesi (2005), o instrumento de avaliação desde o século XVI que era usada pela elite e permanecem até os dias atuais são aplicada por meio de provas que resultam em notas como classificatória, nessa visão os alunos que tiram notas é porque estão aprendendo, pois nem sempre são baseados nos conteúdos ensinados em sala de aula. Para a sociedade esse tipo de avaliação é própria para a classificação e não para a formação do aluno. Pela desigualdade social de classes existentes esse modelo seletivo é mais voltado para a reprovação. 
A educação, no Brasil, está em função de uma concepção autoritária conhecida como um conjunto social conservador. Por outro lado a pedagogia da transformação é ligada a democracia com a participação de todos, expressando a igualdade, assim a avaliação educacional funcionará como esclarecimento no avanço do ensino e aprendizagem.
          Ao definir a avaliação, Luckesi (2005), afirma que é um ato amoroso porque é acolhedor, integrativo e inclusivo, o professor escolhe uma situação e lhe da qualidade e suporte necessário para que os entendimentos e mudanças sejam compreendidos como um ato diagnóstico que permite saber quem esta precisando de ajuda para que o professor possa criar condições de aprendizado para incluir o aluno na construção do conhecimento, relacionando suas experiências de vida com as diversas aulas e assim oferecer-lhes condições de aprender o que ainda não sabe.
Defino a avaliação da aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importa distinguir avaliação de julgamento. O julgamento é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. (Luckesi, 2005, p.172)
A avaliação permite julgar e classificar, mas essa não é a sua função verdadeira e sim a de diagnosticar para saber o que o aluno aprende, para tomar decisões de como melhorar o ensino, modificar a prática para que os alunos alcancem os conhecimentos e assim os resultados esperados.
           Para se tornar uma avaliação diagnóstica, Luckesi (2005), afirma ser necessário uma pré-avaliação para poder compreender o processo e a fase em que o aluno se encontra na aprendizagem, podendo, assim, encaminhar o aluno para um processo que o beneficie em seu aprendizado. A avaliação, nesse contexto, seria para auxiliar o aluno usando meios para que ele avance e prossiga na aquisição de conhecimentos sendo que isso é importante nesse processo do aprendiz: “A avaliação é uma ferramenta da qual o ser humano não se livra. Ela faz parte de seu modo de agir e, por isso, é necessário que seja usada da melhor forma possível”. (Luckesi, 2005, p. 118)
          A avaliação surtirá efeito, se houver a ação colaborativa em função da aplicação dos elementos auxiliares usados pelo professor no qual seja mostrado ao aluno o nível em que ele se encontra, com isso havendo uma interação, chegando a uma conclusão satisfatória. Essa interação deverá ser clara partindo de conclusões concretas.       
A sondagem é um tipo de avaliação diagnóstica que visa observar o tipo das hipóteses que a criança se encontra por bimestre e, portanto por ser uma avaliação cabe aqui verificar os tipos de avaliação que existem: a formadora, mediadora, seletiva, classificatória e autoritária.
É uma atividade de escrita que envolve no primeiro momento a produção espontânea dos alunos de uma lista de palavras ditadas pela professora, sem apoio de outras fontes escritas e necessariamente seguida da leitura do aluno daquilo que ele escreveu, é realizada no inicio do ano letivo, no qual o professor avalia e verifica em qual hipótese silábica ele se encontra.
Para a realização de uma sondagem, o professor deve saber avaliar a hipótese de escrita em que a criança se encontra. Segundo Emilia Ferreiro (1999), o primeiro nível é o pré-silábico um, a criança ainda não estabelece um relação necessária entre a linguagem falada e as diferentes formas de uma representação, acreditando que se escreve com desenhos, e que a grafia deve conter os traços figurativos daquilo que se escreve. As crianças nesta fase não vislumbram que a escrita tem a ver com a pronúncia das partes de cada palavra, produzem riscos ou rabiscos típicos da escrita que tem como forma básica a letra de imprensa ou a cursiva, fazem tentativas de correspondência figurativa entre a escrita e o objeto referido, usando os mesmos sinais gráficos para escrever tudo o que deseja, achando que os nomes das pessoas e das coisas têm relação com o seu tamanho ou idade em que pessoas ou objetos grandes devem ter nomes grandes e pessoas ou objetos pequenos tem nomes pequenos. A leitura é global e não separam números de letras.
O notável é que, até agora, não encontramos exceção a esta regra: a correspondência se estabelece entre aspectos quantificáveis do objeto e aspectos quantificáveis da escrita, e não entre aspectos figural do objeto e aspectos figural do escrito. (Ferreiro, 1999, p.198)
Na hipótese pré-silábica, para Telma Weisz (2003), a criança ainda não percebeu que a escrita representa a fala, que tem um som da palavra e não comparar o tamanho do objeto a que o nome se refere, relacionando que coisas grandes têm nomes grandes e coisas pequenas têm nomes pequenos, nessa fase a criança produz um tipo de escrita em que só considera completa quando alcança o limite do papel e geralmente é escrita utilizando as letras do nome dela.
Em uma outra fase da escrita, a hipótese pré-silábica dois, Ferreiro (1999), aponta que as crianças já usam sinais gráficos, abandonando no traçado os aspectos figurativos daquilo que quer escrever, sendo considerado como um nível intermediário que representa a maneira de passar de um nível a outro de maior complexidade, descobrindo que desenhar não é escrever, que os adultos não escrevem desenhando,utilizam letras diferentes pois acreditam que coisas diferentes têm nomes diferentes, muitas vezes mudam apenas a ordem das letras de seu nome: “Para poder ler coisas diferentes, deve haver diferença objetiva nas escritas”. (Ferreiro, 1999, p. 202)
Concordando com Ferreiro (1999), Weisz (2003) complementa que, nessa fase, a criança escreve utilizando de sete a oito letras, sabendo que não podem ser sempre as mesmas e nem na mesma posição, variando o máximo seu repertório de letras, quando percebem que as palavras diferentes correspondem a escritas diferentes mesmo não sabendo o que é que as letras representam.
A passagem de um nível a outro, no processo de alfabetização, origina-se da tomada de consciência pelo aluno da influência das hipótese até então por ele formuladas para explicar a leitura e a escrita.
Quando a criança sai do nível pré-silábico e entra no nível silábico, é caracterizada por Ferreiro (1999), como a fase em que a criança atribui valor sonoro, as letras da palavra, e que a leitura de cada letra corresponde a uma sílaba. Nessa fase a criança já sabe que a escrita representa a fala, ela deixa de apoiar-se em idéias de vinculação de aspectos figurativos do referente à palavra que o representa, superando a visão global da palavra como um todo, encontrando um suporte que garanta a estabilidade da escrita com as mesmas letras, começa a ver que tudo que se diz se escreve: “Este nível está caracterizado pela tentativa de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem uma escrita”. (Ferreiro, 1999, p.209)
Essa fase é divida em duas hipóteses silábicas, a que a criança não tem valor sonoro na escrita e quando escreve não usa letras correspondentes aquela palavra, apenas coloca uma letra para cada sílaba, a medida que vai escrevendo ela mesma vai percebendo que sua hipótese não é completa, pois não permite a descodificação sendo impossível ler o que a criança escreve neste nível e nem ela própria consegue ler o que escreveu.
A criança, que evolui no nível para a escrita com valor sonoro que é quando a criança escreve a palavra e utiliza as letras correspondentes podendo ser vogais ou consoantes e novamente faz a leitura de uma letra para cada silaba, ela descobre que a leitura do que escreve não é possível porque faltam elementos discriminativos nas sílabas.
Weisz (2003), afirma que no nível silábico a criança encontra uma nova formula para entrar no mundo da escrita, descobrindo que pode escrever uma letra para cada sílaba da palavra e uma letra por palavra na frase, a criança representa a fala por correspondência silábica, já sabendo que para escrever é necessária uma quantidade mínima de letras que geralmente é representada por três, sendo letras variadas e que não sejam repetidas.
As crianças entram em conflito cognitivo, quando tem que escrever uma palavra com apenas uma sílaba, pois elas acreditam que pondo apenas uma ou duas letras não vai estar escrito nada e não vai dar para ler. Criando nessa fase uma enorme fonte de conflito cognitivo.
Ainda nesse segundo momento, as crianças têm de resolver o problema de como garantir que coisas iguais sejam escritas de forma igual e, principalmente, como escrever diferentemente coisas diferentes. (Weisz, 2003, p.7)
Passando da hipótese silábica para a alfabética, Ferreiro (1999), enfatiza que a criança prossegue sua pesquisa em busca de uma solução mais completa que só será alcançada por intermédio da fonetização da sílaba, na constituição alfabética das sílabas. Essa fonetização da sílaba não é instantânea e definitiva, o aluno começa a escrever alfabeticamente algumas sílabas, enquanto escreve outras na hipótese silábica. São escritas silábico-alfabéticas, mas já fazem parte do nível alfabético, mesmo em se tratando do uso de dois tipos de concepções. As crianças, de modo geral, generalizam que todas as sílabas têm sempre duas letras, e vivenciam um problema que é a separação das palavras na produção de textos, quando escrevem textos espontâneos as crianças emendam palavras ou dividem palavras em duas ou três partes, acontecendo porque quando a criança escreve concentra-se na sílaba e as palavras tendem a desaparecer como um todo.
Para Ferreiro (1999), a escrita alfabética é o final da evolução construtiva do aprendizado da leitura e da escrita. Quando chega nessa fase a criança já passou por todas as outras, mas isso não significa que todas as dificuldades tenham sido superadas, pois mesmo estando alfabética ainda tem erros ortográficos que se estende por todo o processo acadêmico: “Isso não quer dizer que todas as dificuldades tenham sido superadas: a partir desse momento, a criança se defrontará com as dificuldades próprias da ortografia, mas não terá problemas de escrita, no sentido estrito”. (Ferreiro, 1999, p.219)
           No caminho da hipótese alfabética, Weisz (2003) completa que as criança podem escrever alfabeticamente as palavras, mas regredir ao nível silábico-alfabético na frase, gerando inúmeros conflitos cognitivos, tanto com as informações que recebe do mundo como com as hipóteses de quantidade e variedade mínima de caracteres construídas pela própria criança: “As escritas silábica e silábico-alfabética têm sido encaradas como patológicas pela escola que não dispõe de conhecimento para perceber seu caráter evolutivo”. (Weisz, 2003, M1U3T5, p.8)
Para realizar intervenções e conseguir avanços em sua aprendizagem é necessário que os alfabetizadores reflitam sobre os aspectos necessários com o objetivo de dar tempo à criança para que ela adquira segurança com relação ao sistema alfabético, na esperança de que o contato frequente com a língua escrita a leve a descobrir e estabilizar as formas convencionais.
Compartilhamos com Zabala (2007), a idéia de que a avaliação, que  os professores fazem com cada aluno, ajuda a saber das necessidades que cada um tem e oferecer as atividades adequadas para cada nível de aprendizagem, motivando-os para que continuem aprendendo e não estacione em uma hipótese. Por meio do dialogo e da confiança o professor deve valorizar o esforço dos alunos e falar sobre o resultado da avaliação, seus avanços, ponto de partida e os obstáculos que superaram e os obstáculos que superaram a mostrar que se realizarem os trabalhos com esforço suficiente poderá avançar.
Nessa pesquisa, a nossa proposta foi investigar a importância da avaliação na aquisição do sistema de escrita pela criança. Quando a criança entra em contato com o sistema de escrita, estabelece hipóteses que é diferente da criança que  nunca teve contato com a escrita informal, por isso se faz necessária a sondagem que nos permite saber isso, para planejar as intervenções necessárias de acordo com a hipótese que ela se encontra.
A sondagem foi à maneira que encontramos para acompanhar a evolução do aprendizado do sistema de escrita dos alunos, tornando-se um instrumento obrigatório de diagnóstico aplicado pelos professores em sala de aula conhecido como “sondagem”.
Erica Bertti Ribeiro
Vera de Jesus Torres